Tudo certo
Poesia, música, gracinhas e traquinagens
Alegria
Rir é o melhor remédio diz o dito popular. Mas não é bem assim que caminha a humanidade. Alegria e felicidade são faces da mesma moeda que faz-me rir. Estar de bem com a vida não é pra qualquer folião, pois viver é perigoso. E com toda essa baixaria diária nos meios de comunicação, convenhamos, querido leitor, não é fácil manter o bom humor. Mas brasileiro ri de tudo, até da própria desgraça e isso é que nos redime e salva.
Alegria é a prova dos nove.
(Oswald de Andrade)
Somente a Arte, esculpindo a humana mágoa,
Abranda as rochas rígidas, torna água
Todo fogo telúrico profundo
E reduz, sem que, entanto, a desintegre,
À condição de uma planície alegre,
A aspereza orográfica do mundo!
Provo dessa maneira ao mundo odiento
Pelas grandes razões do sentimento,
Sem os métodos da abstrusa ciência fria
E os trovões gritadores da dialética,
Que a mais alta expressão da dor estética
Consiste essencialmente na alegria.
Augusto dos Anjos
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
ah ah ah ah ah ah ah ah ah ah
Marcos Prado
Você já viu
os passarinhos?
Eles são pessoas
inteligentes
não lêem horóscopo
nos jornais
passarinhos
passam
os dias
fazendo festa
nos quintais
Luiz Antonio Solda
Se recordar fosse esquecer,
Eu não me lembraria.
Se esquecer, recordar,
Eu logo esqueceria.
Se quem perde é feliz
E contente é quem chora,
Que alegres são os dedos
Que colhem isto, agora!
Emily Dickinson
(1830-1886)
Encantação pelo Riso
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Risonhai aos risos, rimente risandai!
Derride sorrimente!
Risos sobrerrisos – risadas de sorrideiros risores!
Hílare esrir, risos de sobrerridores riseiros!
Sorrisonhos, risonhos,
Sorride, ridiculai, risando, risantes,
Hilariando, riando,
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Vielimir Khlébnikov
(1885 – 1922)
Tradução de Haroldo de Campos
por detrás das cortinas
andam depositando dinheiro
que não é da minha conta
ouço gente me chamando
de meu louro
alguém tem extraído
os meus fracassos das mentes
e depois de me guiar
e distrair com pensamentos bons
ainda me dita o seu próprio louvor
esse santo anjo do senhor
Roberto Prado
Ciência: meia hora de pura alegria
no deserto, lagarto urina gelatina
pra não perder água não sua nem saliva
o mundo cão é o melhor amigo do homem
subtraídas as diferenças que pela soma somem
a natureza é prodigiosa e rica por ser sovina
a seleção natural só escala gente fina
as tartarugas de Galápagos não valem o que comem
de casco pra baixo tomando sol no abdômen
Antonio Thadeu Wojciechowski e Sérgio Viralobos
Rodrigo, primeiramente, me explica toda essa pompa do seu sobrenome e me fale um pouco sobre suas origens.
De onde eu venho ( Brasília) quase ninguém diz que é filho de italianos ou polacos, sou sim um brasileiro “quinhentão”, filho de carioca com baiano ( e é da minha família baiana que vem o tal sobrenome fidalgo, Rodrigo Barros Homem d’El-Rei ) .
Dizem que todo jovem é incendiário, quando amadurece, dá uma de bombeiro. Você toca em duas bandas, uma punk e outra mais ligada à MPB, dá para ser incendiário e bombeiro ao mesmo tempo?
Acho que o maxixe machine é mais incendiário do que bombeiro, mas nisso estou com o beco (Roberto Prado):
“Vivas para quem coloca a bomba.
Vivas para quem a desmonta.”
O que sobrou da sua primeira experiência com o grupo musical CONTRABANDA? E porque ela acabou, após o show “Por um novo incêndio romântico”, mesmo com todo sucesso que ela fazia?
O Maxixe Machine é o filho natural da Contrabanda, já o BaaF é o bastardo, e isso já um legado razoável pra uma banda juvenil e despretensiosa.
O Show do fim da Contrabanda foi o “Rock até Ficar Rouco”, no Guaírão, e a razão principal para o precoce fim foi que alguns dos seus membros se deram conta que a Contrabanda Interprise (sic) Corporation e Limitadas Companhias (era esse o nome completo) não fazia tanto sucesso quanto eles achavam que ela realmente fazia. Eu achei ótimo que acabasse.
Como foi a relação da Contrabanda com as drogas pesadas, entre elas, o álcool?
Não lembro de drogas pesadas durante o período da Contrabanda. Mas tínhamos uma relação muito amistosa com o álcool, quase fraternal. Alguns de nós se tornaram até amantes do álcool.
O Marcos Prado foi o principal letrista tanto da Contrabanda quanto do Beijo AA Força, o que uniu vocês?
Uma mesa de bar nos unia.
O principal letrista da Contrabanda era o Sérgio Viralobos. O Marcos começou a escrever conosco um pouco mais pra frente, em 1980/81. Já no Beijo AA Força, o Prado e o Sérgio dividiram mais igualmente a tarefa. Depois, com a partida do Sérgio, o Marcos foi o colaborador principal, apesar de muitas composições em parceria com o Roberto Prado, com o Thadeu, Edilson Del Grossi e até com o Retta.
O ano que vem vai fazer 10 anos que o Marcos Prado faleceu. Como vocês preenchem o enorme vazio que ele deixou?
Dentro do possível gravamos suas canções em nossos CDs e, mais, continuar compondo sem deixar cair a qualidade das novas canções é uma boa homenagem ao aprendizado que tivemos com ele.
O Marcos foi o melhor poeta da sua geração, o mais brilhante. E, apesar d’eu achar sua obra incompleta, pela sua morte precoce, a qualidade dos seus textos é fenomenal. Mas sei do valor do Sérgio Viralobos e de seus parceiros em boa parte desta obra.
Entre os seus parceiros mais antigos estão o Ferreira e o Walmor Góes, esse casamento vai longe?
Desde a Contrabanda tocamos junto, isso foi há 25 anos, temos 8 CDs gravados juntos e parece que temos mais alguns discos para fazer juntos ainda.
De onde surgiu a idéia de, no auge do Beijo AA Força, formar o grupo Maxixe Machine ?
Na verdade, para montar bandas é preciso ter um bom repertório, então, para nós montarmos o Maxixe Machine ou o OINC foi uma moleza, temos mais músicas compostas do que bandas para tocá-las e gravá-las...
Quais os objetivos do projeto A GRANDE GARAGEM QUE GRAVA e quais os seus futuros desdobramentos?
A GGG é uma concretização da teoria que eu e o Ferreira compartilhamos: o mito que a indústria formal de discos está morta. O CD está morto . A GGG é somente uma transição para outra mídia, que eu não sei qual vai ser. Mas estaremos preparados quando ela chegar. Nós, da guerrilha cultural, temos olhos de lince.
A próxima etapa do projeto será o lançamento das 2 caixas contendo os 16 CDs gravados ao vivo na Grande Garagem de janeiro a junho. A primeira tiragem será para distribuição à imprensa, patrocinadores e bibliotecas, mas poderá também ser vendido por encomenda a R$ 70,00 cada caixa contendo 8 CDs.
E para completar o lançamento da coleção “Poetas em Movimento”, com 12 CDs e mais de 35 poetas.
Ter a oportunidade de conhecer, gravar e acompanhar o que poetas e novas bandas de Curitiba vêm fazendo ajuda a renovar as perspectivas e recarregar as pilhas?
Nós ( da GGG) já tínhamos uma visão e um mapeamento destas atividades em Curitiba, mas só agora conseguimos transformá-las em produto cultural. No final das contas o resultado do produto cultural é o que interessa, não as vendas ou a visibilidade desse produto, mas é uma pena ouvir de tão longe o tilintar das moedas.
Temos a maior coleção de poesia oral do país (quase 90 poetas), e agora, também temos a maior coleção de bandas ao vivo já lançados sob um mesmo selo. Não é pouco. E a qualidade é altíssima.
Como você vê o Beijo AA Força e o Maxixe hoje dentro do panorama musical brasileiro?
O que tenho a dizer é que estamos completamente fora da indústria, mas totalmente inseridos no contexto.
Quais os projetos futuros com cada uma dessas bandas?
E quando sairão novos CDs?
Estamos agora com vários projetos diferentes :
Acabamos de gravar ao vivo na GGG dois CDs, um com canções que tínhamos em parceria com o Marcos Prado e Sérgio Viralobbos, que irá encartado no livro definitivo da obra do Marcos, chamado “Ultralirycs” e outro que já está pronto, e cantado inteiramente em portunhol intitulado, “Carlos Careqa & Maxixe Machine – Nosotros que somos nós miesmos” que vai ser lançado em agosto.
Estamos em fase de escolha de repertório para dois outros CDs, com previsão de lançamento para novembro : O “adult-kids” ABC do Lá-lá-lá, um CD infantil com o Maxixe Machine e o CD homenagem ao Thadeu, o polaco da barreirinha, chamado “Wojciechowski”, que trará um bom apanhado do melhor da obra desse parceiro e sensacional compositor.
E já temos material pronto e gravado para o CD de BaaF, o qual contará com participações especiais de ilustres do rock de Curitiba.
Ufa, isso já vai dar um trabalhão!!!!
Você é um artista multimídia, canta, toca, representa, produz e ainda faz um programa de rádio. Quantas horas tem o seu dia, afinal?
Na verdade, nenhumas destas coisas eu faço bem, mas seria bem pior se eu fosse bancário. Fazer um programa como o Radiocaos nem considero como trabalho... é diversão pura.
Quanto ao tempo, a disponibilidade dele depende do meu interesse no que eu esteja fazendo, ou na falta de dinheiro que é proporcional ao empenho. Sou sócio do ócio e da desorganização, mas não freqüento o clube.
Por que vocês se fixaram em Curitiba, uma cidade que não está no mapa da mídia nacional? Isso não atrapalhou?
Não, o que atrapalhou foi que Curitiba não fica no nordeste, e não tem folclore, e aí ninguém fica com pena da gente... hehehe.
O que acontece hoje em Curitiba musicalmente e por que estamos fora da mídia?
Em Curitiba, estamos fora da mídia por que não se faz uma música que interesse para a indústria (a famosa e famigerada música funcional). Mas os idiotas da subjetividade (sic) não percebem isso. O que é estar na mídia? Tocar no Gugu? Ir na Xuxa?? (Talvez alguém queira até tocar no Gugu, sei lá...).
O que e quem você curte aqui em Curitiba?
Além da minha turma e parceiros (Walmor , Ferreira, Sérgio, Renato Incesto, Thadeu, Edilson, Edson, Marcos e o Trindade) , gosto do Bad Folks, do Glauco Solter, do Careqa , do Mordida, do Arnaldo Machado, do Gruvox , do Primal , d‘Os Catalépticos , Jeff Bass , Pelebroi e outros poucos ... hoje detesto as coisas num espectro bem menor...
E no Brasil e no mundo?
Vim do punk , não tenho referenciais profundos e totêmicos com nenhum artista em especial , poderia dizer Ween ou Tom Verlaine, poderia dizer Ismael Silva ou Noel, mas eu estaria mentindo . O que me interessa é a diversidade de leituras e reflexões sobre a vida e seus momentos que a música possibilita.
O que ainda mais te emociona?
Amor, Cultura & Dinheiro.
O que mais te aborrece?
Idiotas, Ladrões e Filhos da Puta.
Em São Paulo Desculpem minha ausência, mas estou em sampa no maior trampo. Sem tempo pra nada, mal e mal, pra redigir este. Mas segunda ou terça devo estar de volta. Um abraço pra todo mundo. Polaco da Barreirinha |